terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Fontanella I


"Eu ajudava os necessitados com o dinheiro da paróquia"
Padre José Fontanella


"Giuseppe Fontanella, nascido em San Rocco al Porto, província de Piacenza na Itália em 28 de fevereiro de 1934; filho de Giovanni Fontanella e Chilardelli Clelia, fazendeiros de Piacenza na Itália, uma cidade rica culturalmente com seus palácios medievais e habitações tradicionais. Aos 34 anos recebeu a difícil missão, a convite de Dom Eliseu, de vir servir no Brasil, especificamente em Paragominas, depois, um desafio gigante, um vilinha que nascia no coração selvagem paraense, um região inóspita de conflitos pela posse da terra"

Fonte: "Pelo Vitrô", de Rosa Maria Peres Lima - 13 de dezembro de 1976 - amor, exílio, saudade - A história do Padre José Fontanella

Profº. Ms. Robson Luiz Veiga
Candangolândia
Vila Rondon 
Rondon do Pará

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Lá tinha II


“Naquele tempo
Não havia esta depressiva grade curricular
Que tanto maltrata física e psicologicamente
Os atuais educadores rondon-paraenses.
Naquele tempo
O riso estampado no rosto de cada um
Era largo em modéstia;
A alma era pura, leve e serena;
Os rancores eram dóceis como uma tarde de chuva...
E as amizades coloridas ao sabor do vento...
Eta, tempo bão!”

@medhusas
Da Série “Lá tinha...

Profº. Ms. Robson Luiz Veiga


Candangolândia
Vila Rondon 
Rondon do Pará

Lá tinha I



“Naquele tempo
Se havia fogos
Esses explodiam ao pino do sol
E não mais do que uma xícara de chá
Não incomodando o riso dos nossos cães

O mimo dos nossos gatos
O prumo do beija-flor
Nem o sono das nossas crianças autistas
Bem como a paciência dos depressivos.
Se havia fogos
Nem me lembro
Só sei que havia mais fé e menos glamour”


@medhusas
Da Série “Lá tinha..."




Profº. Ms. Robson Luiz Veiga
Candangolândia
Vila Rondon 
Rondon do Pará


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Terceiro capítulo

Candangolândia


Teceiro Capítulo



Enquanto a manhã corria solta, embalada pelos belos versos do poeta Amilton Ruas numa de suas mais belas viagens poéticas, e dedilhada com os dedos do leroso Tião Puro, na voz cortante do frenético Edson Sete, este com sua calça preta, toda apertadinha, e os cabelos em puro gel, porquanto assim se definia a primeira estrofe, Toda manhã, levanto cedo, escovo os dentes e te dou um beijo de hortelã, o menino Valber, psicólogo por formação universitária, estendia uma das mãos ainda na cabeceira da rua César Brasil, enquanto o vento soprava teus cabelos, empurrados por uma breve indagação, Oi irmã de Rubinho e Zé Mocó, será que você não poderia deixar uma moedinha pra mim tomar um café com leite lá na Veneza.

Enquanto isso, do outro lado da avenida, e pra ficar mais claro em relação ao lugar, na entrada da Praça da Bandeira, numa esquina onde antes era o famoso Bar Oriente, por onde as tardes rondonparaenses ainda na década de 70, eram animadas ao som da musicalidade brega de Roberto Garoto, agora estava o jovem Ricardo D’Almeida, após conferir as imagens tiradas da cruzada vermelha, que ao longo lá se vai, e se prepara para mais adiante, pois há muito trabalho pela frente, já que o mesmo ficara sabendo na noite de ontem que hoje à tarde homens iriam cair do céu voando como pássaros, e cujo lugar de pouso seria a nossa querida Praça da Paz, lá onde agora mesmo o poeta maior Dionísio Almeida acabou de comprar um disco original do cantor e compositor João Miranda, trabalho este gravado ainda no início dos anos 90, e que tinha como título uma das canções mais cantadas durante a semana do meio ambiente, Proteção ao verde, num trabalho artístico que teve como mecena, o libriano Manoel Lacerda, homem de espírito singular, que Deus o tenha em bom lugar.

Poderíamos por aqui parar e prosear sobre arte, sobre música, sobre poesia, porém, o que nos interessa agora é esperar por aqueles homens que irão cair do céu logo mais à tarde, pois, por aqui, ainda é grande novidade, e são das novidades que ainda espera cada homem por viver, visto que a vida em rotina é cancerígena ao espírito humano, este, sempre levado às aventuras, seja da carne ou seja da alma, e por falar em aventuras, segue o professor Joseilson Meirelles a coletar poeticamente os farelos que há muito vem se perdendo por aí, e destes, não é que surge em verso, entre outros, o conflito entre os americanos e os posseiros desta terra, acontecido ironicamente em quatro de julho de mil novecentos e setenta e seis, justamente no bicentenário da independência dos Estados Unidos da América. Pois bem, enquanto nesta mesma data Zico e Roberto Dinamite repetiam em placar o feito de 70, por Pelé e companhia, contra a mesma Azurra, desta feita em solo americano, por aqui, segundo os versos do estimado poeta e professor Joseilson Meirelles, os posseiros invadiam a terra do senhor John Weaver Davis e filhos, terra esta que se perdia no horizonte, pois assim era a confirmação de posse naqueles tempos distantes e difíceis, e que através do olhômetro se media a quantidade de hectares, como por exemplo, Tá vendo lá, meu filho, onde deita o sol, pois é, minha terra segue daqui até lá, e que se atreva o primeiro imbecil a invadir aquilo que é meu por direito, se estabelecendo assim, disputas e conflitos por onde muitos se perderam, ganhando ao invés de terras a pisar, sete palmos de terra nos cornos, deixando bem claro que naqueles tempos prevalecia neste recanto a lei do mais forte, e entenda-se aqui que mais forte não significa ser o mais gordo, porém, o de melhor calibre e o de melhor bagagem.

Mas deixando por aí que os mortos que enterrem seus mortos, atentemo-nos, agora, no quadro histórico em que o professor Walney Silva vem há muito tempo a preparar, cuja exposição será realizada na biblioteca da Escola Dom Pedro I, numa coletânea de imagens que contam e resgatam um pouco da historiografia deste lugar, tentando manter viva a memória de um povo, naquilo que seria por obrigação, um trabalho a se realizar, caso aqui tivéssemos já uma Casa de Cultura, porém, como já expomos lá no primeiro capítulo, este tipo de coisa não faz parte da cartilha dos nossos políticos, quem sabe um belo dia, quando não tivermos criadores de bois e plantadores de capins a sentar na cadeira em que tudo se governa, porém, não creio que ainda será por fazer parte desta geração, e talvez nem da outra, pois, política por aqui ainda se faz comprando votos em troco de bujão de gás, cesta básica, caixa de remédio, talão de água e luz, telhas e lajotas, promessa de terrenos, de aposentadoria, emprego na máquina pública para mulher e filhos, parentes e derentes, bem como, isenção do IPTU, que este já cansou de eleger neguinho de encher balde, e por aí se vai.

E era um gole de vodka, uma música de Raul, e uma imagem colada ao quadro, enquanto o amigo Jânio, ex padeiro, sentado ao lado, dizia, Essa é boa, não sabendo nós a se referir à canção ou à imagem. E numa destas imagens antigas, reconhecemos de longe o padre José Fontanella, e que atualmente é nome de um estabelecimento de ensino, por onde precariamente convivem em seu quadrante, crianças e ratos a dividirem o mesmo espaço, sem falar, é claro, nas serpentes, pois onde há ratos, há cobras, tudo por causa duma diversão que já faz tempo vem travando o governo do estado junto ao governo municipal, por onde um diz, Não é minha obrigação cuidar desta escola, cuida você que recebe os fundos destes alunos, da minha parte, as paredes já se encontram de pé. E lá do alto, junto a São Pedro, o dito padre, em fúria de espírito se lamenta por ter, ainda em vida, emprestado o belo nome italiano a ser jogado numa lata de lixo, o que, pelo jeito, só será resolvido tal situação, quando no futuro, a galera amistosa dos Blacks por aqui chegar e pinchar de negro a distinta Casa Verde, que por ora, esta também contém os seus ratos, porém, estes bem mais nobres do que àqueles, haja vista suas belas intenções e criações desde quando o mundo é mundo. E como diria Didinho, em sua caduca lucidez, Meu filho, no mundo tudo há, há, há, há! E por aqui paramos nós, pois é hora de sentar no Debra e encher o bucho da mais apetitosa panelada da Br 222, e depois, deitar numa rede preguiçosa à espera daqueles homens a cair do céu, pois, como grande novidade, ali tem coisa, e em matéria de política, tanto faz ser antes ou depois, ainda vivemos de pão e circo, e assim como não fora os romanos quem mataram a Cristo, e sim, os judeus, também não fora Maquiavel o primeiro na arte de ludibriar, embora este de fama, ainda se vive.








quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Segundo capítulo



Candangolândia


Segundo Capítulo



Lá em Êxodo, textualmente diz o que quer diz, e segue quem assim entender, como por exemplo, Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá, porém, por ter dado também o livre arbítrio ao homem, algumas vezes por tentação, e grandes são as tentações humanas, pois fraca é a danada da carne, o melhor caminho é não seguir o primeiro preceito, estando às vezes a vida a ser apenas um espetáculo em brevidade, como versava Gregório, e não queira o leitor entender que se trate aqui de pilhérias em relação ao nosso terceiro homem, cujas tentações são outras, poéticas sim, porém, àquilo na qual cerqueia tuas retinas, como no caso, àquele que lá vem a puxar os camisas vermelhas em procissão, que está a querer tomar o lugar do pai, e como todas as rochas são brutas por natureza, segue-lhe o desejo, cuja história não se encarregará de cumprir, pois assim já estava escrito, Honra teu pai e tua mãe, para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra, porém, de conselho é feito o mundo por ser de graça, e pelo gratuito, às vezes não se segue, justamente por não ter valor, e por falar em valor, embora seja sábado, da pra se ver daqui que lá na frente do Bradesco se amontoam os onzineiros à procura de carne fresca, mas deixamos de lado esta brincadeira por onde se morre e se mata desde a noite dos tempos, e sendo aqui terra de forasteiros, não seria de ser esta, uma prática incomum por estas bandas.
Mas creio que não abrimos este capítulo a falar de coisas perdidas, falemos de poesia, e por falar nisso, uma indagação se faz oriunda dos lábios deste terceiro homem, Choveu lá, assim cumprimentando a todos que beiram o círculo da praça, onde uns chegam a responder, Que isso, homem, estamos ainda em outubro, mas pelo jeito o enunciado anterior não venha a tratar de fenômeno natural propício ao mês de dezembro, contudo, ao cumprimento, como a dizer, Bom dia, meu amigo, e aí, como vai, tudo bem, numa linguística que ainda haverá de ocupar espaço no cotidiano deste povo, que desde de já, deixamos claro que não se trata de povo rondonense, todavia, de rondonparaense, e que nos perdoe a gramática, neste caso singular, e quem sabe um dia, mas não agora, pois é hora de contar por aqueles que vem atravessando a avenida Marechal Rondon cantando palavras de ordem, como um grupo acostumado em ser coadjuvante na esfera governamental, e que de tanto se empanturrar com migalhas caídas das mesas dos caciques pmdbistas locais, é que agora pleiteiam o espaço primordial, num vermelho cor de sangue estampado em cada blusa que chega a doer a vista, e o que mais assusta é a composição da chapa, na qual se estabelece numa união entre um empresário e uma sindicalista, algo até bonito de se ver, romântico até, porém, às produções cinematográficas de baixo custo, e que por sorte ou por azar, tem o seu tempo certo de chegar ao fim, e pelo jeito não irá durar mais do que a próxima lua, como o simples caso de certas uniões que já em si começaram com prazo de validade vencida, mas não estamos aqui falar de união, porém, de poesia, daquilo que alimenta o espírito humano, pois já dissera alguém no passado, Nem só de pão vive o homem, mas porém contudo todavia entretanto no entanto, de poesia, assim como disse Bethânia.
Choveu lá, é a pergunta que o poeta Dionísio Almeida faz ao professor Walney Silva, este que vem chegando ao redondo da praça, e que ao invés de responder ao outro, apenas observa o par de coxas que por ali vem a atravessar a praça, o que de imediato alimenta o espírito do poeta a escrever mentalmente aquilo que num futuro próximo seria confirmado em poema escrito, que depois ganhará vida com a bela voz de Larissa Cifarelli, e se transformará em um dos seis audiovisuais produzidos pelo jovem Ricardo Tavares de Almeida no projeto artístico Rondon em Poema, cujo título, Garota da paz, elevará o nome deste lugarejo como o lugar onde se tenha as mulheres mais belas e simpáticas do norte do país por metro quadrado, e antes mesmo do leitor ficar me perguntando sobre as linhas deste poema, melhor deixá-lo logo abaixo, a falar por si só, para que não haja nenhuma cumplicidade em relação ao fato exposto por aqui, porém, no entanto, lá vem um dos componentes da dupla Los Cachos, que nas horas vagas, num bom sentido, o maior fuxiqueiro por estas bandas, bem como, o maior boêmio também, como vem a se conformar depois de um dedo de prosa com estes dois na qual principiamos este parágrafo, e que ao passar o dedo indicador três vezes no nariz, que só o general do brega ou do arrocha, Wilton Jr, é capaz de imitar, chega a lamentar passando a mão na barriga, como de costume, logo após uma noite em cantoria, Poxa, estou mal, como se fosse novidade, e como um raio, atravessou a praça e sumiu logo em seguida, sem é claro, deixar de clicar o dedo em sua máquina fotográfica ao belo rosto daquela garota da paz, que seria capa de O Fuxico uma semana depois, ganhando fama e notoriedade.
Em voz alta, o poeta Dionísio declama lentamente o seu poema, enquanto lá do fundo, os avermelhados em passeata seguem avenida adentro, cantando e gritando palavras de ordem, cujas camisas estampadas, além da sigla, mostram certos rostos conhecidos da história, tal qual, Guevara, Max, e outros, tudo registrado milimetricamente aos olhos do poeta e historiador Joseilson Meirelles, em personagens que ganhariam vida segundo os versos de num livro ainda a ser lançado, o que duvidamos muito por acontecer, enquanto no poder ainda tivermos quem plante capim e cuida de gado, pois, afinal, é de homens que precisamos que gostem de cuidar de homens em sociedade, e para isto, a arte é a primeira de todas as portas, sem ela, a outras se fecham, o raio de sol não adentra, o brilho da lua não penetra, e a brisa não sacia o espírito humano, porém, abrimos este capítulo a falar do terceiro homem, e onde ele estava enquanto devaneamos por outros caminhos.
Agora, atentemos ao leitor sobre algo, na verdade sobre um surto de memória que pairou no espírito do poeta Dionísio Almeida no instante em que este fizera aquele poema, e que na verdade na verdade, e no fundo no fundo, em nada tem a ver com o belo par de coxas daquela garota que cruzou a praça contornando a multidão, porém, tem a ver com uma outra moça, em outra praça, num tempo ainda remoto, em Vila Pereira, numa transfiguração que só à poesia é reservado tal direito, conhecida por Tia Ceiça, e como nome de estabelecimento escolar, após uma vida dedicada à educação, ficou Conceição Tavares.
Sim, esta sim é a garota e musa inspiradora do poeta dionisíaco, a garota da paz, após, como dissemos, um surto de memória, um apagão do presente, e um terremoto de imagens construídas à base do passado, na qual, o próprio poeta daria um ano pela frente aos anjos do céu, por ter o prazer de vivenciar em carne e osso, corpo e alma, apenas a passagem de mais uma lua se quer ao lado da amada. Pois é, o amor tem destas coisas, e de outras ainda mais que nem sabemos o porquê, quem sabe um dia, se mais um dia tivermos.






domingo, 6 de outubro de 2013

Primeiro capítulo


Candangolândia


Primeiro Capítulo



Era véspera de eleição, e por todo canto e recanto desta terra amada pelo exilado padre José Fontanella, que Deus o tenha em bom lugar, corria o mesmo cheiro em abundância, seja na feira, seja na praça, nas ruas ou nas calçadas, comum a todo lugarejo em época tão sagrada e profana como esta, na qual o sol chega cedo e não pede licença pra bater na porta, apenas a dizer, Levanta, comadre, amanhã é dia da verdade, e hoje, o da mentira, como bem sabemos, o que remontando pela via mais segura aos olhos do leitor, é que hoje é dia de correr atrás do voto, caso seja um candidato, ou no caso do eleitor, hoje é dia de colocar a farinha na mesa e a carne no varal, notadamente em algo na qual as duas pontas saciam ferozmente em receber em conjugar uma sentença tão propagada por São Francisco de Assis em relação ao dar e receber, pois é dando que se recebe, não havendo portanto deveras ao longo do caminho futuro, nenhuma obrigação a dar ao outro, pois produto pago é produto comprado, mesmo que seja um produto da consciência humana, como assim já vejo logo na primeira esquina, quando um dos candidatos ao cargo de vereador acaba de sair da casa de uma mulher, e tá certo que ele irá dizer à sua senhora quando lá chegar, que estava à caça dos votos durante à madrugada, enquanto a outra dirá ao corno que por ora está viajando, mas quando a dar pelo fato irá saber que fora àquilo apenas uma simples visita matinal com os devidos créditos a depositar o leite das crianças, sim, o mesmo tal qual se fez negócio na eleição passada, afinal, é sempre assim, um vício só, seja de quem dá ou mesmo de quem recebe, e coitado do santo que não pensava em que ponto chegaria a humanidade em torno de uma outra semântica.

Mas conforme íamos dizendo, deixando de lado certas particularidades que não venham agora ao caso, depois quem sabe, algum valor venha a ter nesta narrativa, seguimos o cheiro que contamina este dia, e logo avistamos na entrada da feira nova, e que de nova nada tem, que os famosos santinhos percorrem junto ao pagamento do alface, e com ele, um breve recado, Olha, não esqueça de mim no dia de amanhã, o que nos faz relembrar na fala daquele ladrão que ao lado de Cristo lhe disse enquanto o outro lado ironizava, e também aqui percebemos uma outra ironia da boca da vendedora de alface quando aquele moço das às costas à procura de outras presas, Pode deixar, meu querido, não esquecerei de você, o que no coração, seria outra a sentença a dizer, Tá pensando que eu sou besta, seu otário, e é claro que ela disse estas palavras apenas em pensamento, porém mordendo a língua numa vontade louca a dizer em voz alta, porém, havia na tua mão uma nota razoável que equivalia cinco vezes mais do que um pé de alface, e só ali daria pra comprar cinco litros de leite, afinal, o costume por aqui ainda é parir um por ano, então, melhor seria pensar nas crianças do que na ira do diabo, e voto por voto em se tratando dos homens que irão compor à casa da lei, tanto faz um como o outro, o que vale é quem dá mais, pois no fundo no fundo, no pensar desta mulher, é mais um vagabundo que será alimentado pelo povo, e se assim é, assim seja que ele deposite em minhas mãos um bocado dos teus, e que seja agora, antes do último sorriso do sol, pois depois da contagem dos votos, é um tal de beijinho beijinho pau pau, como um dos versos de uma canção da dupla Os Lerosos em maio de 1989, no Salão Paroquial, no aclamado evento Rondon faz Arte em sua primeira edição, pra fúria de alma do prefeito da época, que nos bastidores, disse a um dos seus assessores, Olha, não quero mais saber deste moleques aí cantando esta música mais não, isso fere a dignidade do meu governo, e eu sou um homem sério, tenho um nome a zelar.

E por falar nisso, já é hora de observar e registrar, porém não por inteiro, as peripécias de três homens a dividir o contorno da praça principal, que bem poderia esta se chamar praça do fazendeiro, ou quem sabe Altímio Marinho, mas que de paz lhe apelidaram quando passaram do chão ao concreto, nome mais do que comum, e por ser comum, de nada deixa de interessante à história, a não ser, como estávamos a dizer, sobre estes três homens enigmáticos. O primeiro, do lado norte da praça, sentado numa das mesas do bar da Manza, faz anotações em seu caderninho que no futuro se chamará Rondon do Pará em prosas, versos e canções, isso é, num futuro ainda um pouco distante, pois a cultura ainda não faz parte das recomendações governamentais, nem nas mentes, nem nos espíritos e nem nas cartas de intenções dos nossos candidatos, é coisa ainda se pensar, porém, o professor e poeta Joseilson Meirelles já pensa em relatar a história deste povo em versos, assim como Homero ou Camões, apenas pra citar dois belos exemplos, e por isso, ali está, com olhos de falcão, a registrar os pormenores, que aos olhos de um outro cidadão qualquer seria um besterol a jogar no lixo, mas sempre há de se catar algumas pérolas na lixeira, não todos os dias, não em todas as cestas, e por isso, ali está ele, a esperar pelo desfile dos diabinhos vermelhos, que logo logo sairão da feira e atravessarão em marcha tendo no peito de cada um a foice e o machado, alguns por ignorância, outros menos, por sapiência, afinal, pra cada um milhão de tolos há sempre uma língua a declamar e a comer do melhor pirão, mas o nosso poeta está ali pra registrar em versos, e assim o faz, e enquanto espera, uma dose de cana das Minas Gerais sempre é bem-vinda por aqui, embora seja o nosso poeta um bom baiano. Já do outro lado, um sotaque mais próximo vem saindo do supermercado, agregando entre um dos bolsos do blusão azul um litro de vodka, sua especialidade nas horas vagas e históricas como esta, que não traz bloco de anotações como o outro, mas registra tudo em teu cérebro de bom maranhense da terra da soja, para depois em forma de mural preencher o espaço da biblioteca da Escola Dom Pedro I aos olhos e ouvidos dos meninos e meninas famintas e sedentas a pular o muro da história, e o nosso é quem vai no futuro ser o cavalete por onde nossas crianças irão subir às costas para atravessar o espaço temporal da qual se divide o presente e o passado, cujo nome se proclama como Walney Silva, cabra macho. E como dissemos já em outro momento desta narrativa, são três os homens, e se já apresentamos dois, no caso, ainda falta um, porém, deixemos este outro a decorrer suas peripécias em outro capítulo, pois agora é pausa para o café, um descanso pras retinas, ou quem sabe um bom cochilo, afinal, tanto o leitor como o narrador sempre precisam de um bom tempo pra se entregar à vida real, vê como está o tempo, quem ligou, quem chegou, os recados estampados na porta da geladeira, o calendário, dá milho aos pombos e água aos cães, revistar o facebook, a caixa do email, e nada por esperar como uma carta que vem de longe, pois já estamos em tempos pós-modernos, e além do mais, o homem do correio está em greve, a terceira neste ano.