segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Terceiro capítulo

Candangolândia


Teceiro Capítulo



Enquanto a manhã corria solta, embalada pelos belos versos do poeta Amilton Ruas numa de suas mais belas viagens poéticas, e dedilhada com os dedos do leroso Tião Puro, na voz cortante do frenético Edson Sete, este com sua calça preta, toda apertadinha, e os cabelos em puro gel, porquanto assim se definia a primeira estrofe, Toda manhã, levanto cedo, escovo os dentes e te dou um beijo de hortelã, o menino Valber, psicólogo por formação universitária, estendia uma das mãos ainda na cabeceira da rua César Brasil, enquanto o vento soprava teus cabelos, empurrados por uma breve indagação, Oi irmã de Rubinho e Zé Mocó, será que você não poderia deixar uma moedinha pra mim tomar um café com leite lá na Veneza.

Enquanto isso, do outro lado da avenida, e pra ficar mais claro em relação ao lugar, na entrada da Praça da Bandeira, numa esquina onde antes era o famoso Bar Oriente, por onde as tardes rondonparaenses ainda na década de 70, eram animadas ao som da musicalidade brega de Roberto Garoto, agora estava o jovem Ricardo D’Almeida, após conferir as imagens tiradas da cruzada vermelha, que ao longo lá se vai, e se prepara para mais adiante, pois há muito trabalho pela frente, já que o mesmo ficara sabendo na noite de ontem que hoje à tarde homens iriam cair do céu voando como pássaros, e cujo lugar de pouso seria a nossa querida Praça da Paz, lá onde agora mesmo o poeta maior Dionísio Almeida acabou de comprar um disco original do cantor e compositor João Miranda, trabalho este gravado ainda no início dos anos 90, e que tinha como título uma das canções mais cantadas durante a semana do meio ambiente, Proteção ao verde, num trabalho artístico que teve como mecena, o libriano Manoel Lacerda, homem de espírito singular, que Deus o tenha em bom lugar.

Poderíamos por aqui parar e prosear sobre arte, sobre música, sobre poesia, porém, o que nos interessa agora é esperar por aqueles homens que irão cair do céu logo mais à tarde, pois, por aqui, ainda é grande novidade, e são das novidades que ainda espera cada homem por viver, visto que a vida em rotina é cancerígena ao espírito humano, este, sempre levado às aventuras, seja da carne ou seja da alma, e por falar em aventuras, segue o professor Joseilson Meirelles a coletar poeticamente os farelos que há muito vem se perdendo por aí, e destes, não é que surge em verso, entre outros, o conflito entre os americanos e os posseiros desta terra, acontecido ironicamente em quatro de julho de mil novecentos e setenta e seis, justamente no bicentenário da independência dos Estados Unidos da América. Pois bem, enquanto nesta mesma data Zico e Roberto Dinamite repetiam em placar o feito de 70, por Pelé e companhia, contra a mesma Azurra, desta feita em solo americano, por aqui, segundo os versos do estimado poeta e professor Joseilson Meirelles, os posseiros invadiam a terra do senhor John Weaver Davis e filhos, terra esta que se perdia no horizonte, pois assim era a confirmação de posse naqueles tempos distantes e difíceis, e que através do olhômetro se media a quantidade de hectares, como por exemplo, Tá vendo lá, meu filho, onde deita o sol, pois é, minha terra segue daqui até lá, e que se atreva o primeiro imbecil a invadir aquilo que é meu por direito, se estabelecendo assim, disputas e conflitos por onde muitos se perderam, ganhando ao invés de terras a pisar, sete palmos de terra nos cornos, deixando bem claro que naqueles tempos prevalecia neste recanto a lei do mais forte, e entenda-se aqui que mais forte não significa ser o mais gordo, porém, o de melhor calibre e o de melhor bagagem.

Mas deixando por aí que os mortos que enterrem seus mortos, atentemo-nos, agora, no quadro histórico em que o professor Walney Silva vem há muito tempo a preparar, cuja exposição será realizada na biblioteca da Escola Dom Pedro I, numa coletânea de imagens que contam e resgatam um pouco da historiografia deste lugar, tentando manter viva a memória de um povo, naquilo que seria por obrigação, um trabalho a se realizar, caso aqui tivéssemos já uma Casa de Cultura, porém, como já expomos lá no primeiro capítulo, este tipo de coisa não faz parte da cartilha dos nossos políticos, quem sabe um belo dia, quando não tivermos criadores de bois e plantadores de capins a sentar na cadeira em que tudo se governa, porém, não creio que ainda será por fazer parte desta geração, e talvez nem da outra, pois, política por aqui ainda se faz comprando votos em troco de bujão de gás, cesta básica, caixa de remédio, talão de água e luz, telhas e lajotas, promessa de terrenos, de aposentadoria, emprego na máquina pública para mulher e filhos, parentes e derentes, bem como, isenção do IPTU, que este já cansou de eleger neguinho de encher balde, e por aí se vai.

E era um gole de vodka, uma música de Raul, e uma imagem colada ao quadro, enquanto o amigo Jânio, ex padeiro, sentado ao lado, dizia, Essa é boa, não sabendo nós a se referir à canção ou à imagem. E numa destas imagens antigas, reconhecemos de longe o padre José Fontanella, e que atualmente é nome de um estabelecimento de ensino, por onde precariamente convivem em seu quadrante, crianças e ratos a dividirem o mesmo espaço, sem falar, é claro, nas serpentes, pois onde há ratos, há cobras, tudo por causa duma diversão que já faz tempo vem travando o governo do estado junto ao governo municipal, por onde um diz, Não é minha obrigação cuidar desta escola, cuida você que recebe os fundos destes alunos, da minha parte, as paredes já se encontram de pé. E lá do alto, junto a São Pedro, o dito padre, em fúria de espírito se lamenta por ter, ainda em vida, emprestado o belo nome italiano a ser jogado numa lata de lixo, o que, pelo jeito, só será resolvido tal situação, quando no futuro, a galera amistosa dos Blacks por aqui chegar e pinchar de negro a distinta Casa Verde, que por ora, esta também contém os seus ratos, porém, estes bem mais nobres do que àqueles, haja vista suas belas intenções e criações desde quando o mundo é mundo. E como diria Didinho, em sua caduca lucidez, Meu filho, no mundo tudo há, há, há, há! E por aqui paramos nós, pois é hora de sentar no Debra e encher o bucho da mais apetitosa panelada da Br 222, e depois, deitar numa rede preguiçosa à espera daqueles homens a cair do céu, pois, como grande novidade, ali tem coisa, e em matéria de política, tanto faz ser antes ou depois, ainda vivemos de pão e circo, e assim como não fora os romanos quem mataram a Cristo, e sim, os judeus, também não fora Maquiavel o primeiro na arte de ludibriar, embora este de fama, ainda se vive.








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