quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Segundo capítulo



Candangolândia


Segundo Capítulo



Lá em Êxodo, textualmente diz o que quer diz, e segue quem assim entender, como por exemplo, Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá, porém, por ter dado também o livre arbítrio ao homem, algumas vezes por tentação, e grandes são as tentações humanas, pois fraca é a danada da carne, o melhor caminho é não seguir o primeiro preceito, estando às vezes a vida a ser apenas um espetáculo em brevidade, como versava Gregório, e não queira o leitor entender que se trate aqui de pilhérias em relação ao nosso terceiro homem, cujas tentações são outras, poéticas sim, porém, àquilo na qual cerqueia tuas retinas, como no caso, àquele que lá vem a puxar os camisas vermelhas em procissão, que está a querer tomar o lugar do pai, e como todas as rochas são brutas por natureza, segue-lhe o desejo, cuja história não se encarregará de cumprir, pois assim já estava escrito, Honra teu pai e tua mãe, para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra, porém, de conselho é feito o mundo por ser de graça, e pelo gratuito, às vezes não se segue, justamente por não ter valor, e por falar em valor, embora seja sábado, da pra se ver daqui que lá na frente do Bradesco se amontoam os onzineiros à procura de carne fresca, mas deixamos de lado esta brincadeira por onde se morre e se mata desde a noite dos tempos, e sendo aqui terra de forasteiros, não seria de ser esta, uma prática incomum por estas bandas.
Mas creio que não abrimos este capítulo a falar de coisas perdidas, falemos de poesia, e por falar nisso, uma indagação se faz oriunda dos lábios deste terceiro homem, Choveu lá, assim cumprimentando a todos que beiram o círculo da praça, onde uns chegam a responder, Que isso, homem, estamos ainda em outubro, mas pelo jeito o enunciado anterior não venha a tratar de fenômeno natural propício ao mês de dezembro, contudo, ao cumprimento, como a dizer, Bom dia, meu amigo, e aí, como vai, tudo bem, numa linguística que ainda haverá de ocupar espaço no cotidiano deste povo, que desde de já, deixamos claro que não se trata de povo rondonense, todavia, de rondonparaense, e que nos perdoe a gramática, neste caso singular, e quem sabe um dia, mas não agora, pois é hora de contar por aqueles que vem atravessando a avenida Marechal Rondon cantando palavras de ordem, como um grupo acostumado em ser coadjuvante na esfera governamental, e que de tanto se empanturrar com migalhas caídas das mesas dos caciques pmdbistas locais, é que agora pleiteiam o espaço primordial, num vermelho cor de sangue estampado em cada blusa que chega a doer a vista, e o que mais assusta é a composição da chapa, na qual se estabelece numa união entre um empresário e uma sindicalista, algo até bonito de se ver, romântico até, porém, às produções cinematográficas de baixo custo, e que por sorte ou por azar, tem o seu tempo certo de chegar ao fim, e pelo jeito não irá durar mais do que a próxima lua, como o simples caso de certas uniões que já em si começaram com prazo de validade vencida, mas não estamos aqui falar de união, porém, de poesia, daquilo que alimenta o espírito humano, pois já dissera alguém no passado, Nem só de pão vive o homem, mas porém contudo todavia entretanto no entanto, de poesia, assim como disse Bethânia.
Choveu lá, é a pergunta que o poeta Dionísio Almeida faz ao professor Walney Silva, este que vem chegando ao redondo da praça, e que ao invés de responder ao outro, apenas observa o par de coxas que por ali vem a atravessar a praça, o que de imediato alimenta o espírito do poeta a escrever mentalmente aquilo que num futuro próximo seria confirmado em poema escrito, que depois ganhará vida com a bela voz de Larissa Cifarelli, e se transformará em um dos seis audiovisuais produzidos pelo jovem Ricardo Tavares de Almeida no projeto artístico Rondon em Poema, cujo título, Garota da paz, elevará o nome deste lugarejo como o lugar onde se tenha as mulheres mais belas e simpáticas do norte do país por metro quadrado, e antes mesmo do leitor ficar me perguntando sobre as linhas deste poema, melhor deixá-lo logo abaixo, a falar por si só, para que não haja nenhuma cumplicidade em relação ao fato exposto por aqui, porém, no entanto, lá vem um dos componentes da dupla Los Cachos, que nas horas vagas, num bom sentido, o maior fuxiqueiro por estas bandas, bem como, o maior boêmio também, como vem a se conformar depois de um dedo de prosa com estes dois na qual principiamos este parágrafo, e que ao passar o dedo indicador três vezes no nariz, que só o general do brega ou do arrocha, Wilton Jr, é capaz de imitar, chega a lamentar passando a mão na barriga, como de costume, logo após uma noite em cantoria, Poxa, estou mal, como se fosse novidade, e como um raio, atravessou a praça e sumiu logo em seguida, sem é claro, deixar de clicar o dedo em sua máquina fotográfica ao belo rosto daquela garota da paz, que seria capa de O Fuxico uma semana depois, ganhando fama e notoriedade.
Em voz alta, o poeta Dionísio declama lentamente o seu poema, enquanto lá do fundo, os avermelhados em passeata seguem avenida adentro, cantando e gritando palavras de ordem, cujas camisas estampadas, além da sigla, mostram certos rostos conhecidos da história, tal qual, Guevara, Max, e outros, tudo registrado milimetricamente aos olhos do poeta e historiador Joseilson Meirelles, em personagens que ganhariam vida segundo os versos de num livro ainda a ser lançado, o que duvidamos muito por acontecer, enquanto no poder ainda tivermos quem plante capim e cuida de gado, pois, afinal, é de homens que precisamos que gostem de cuidar de homens em sociedade, e para isto, a arte é a primeira de todas as portas, sem ela, a outras se fecham, o raio de sol não adentra, o brilho da lua não penetra, e a brisa não sacia o espírito humano, porém, abrimos este capítulo a falar do terceiro homem, e onde ele estava enquanto devaneamos por outros caminhos.
Agora, atentemos ao leitor sobre algo, na verdade sobre um surto de memória que pairou no espírito do poeta Dionísio Almeida no instante em que este fizera aquele poema, e que na verdade na verdade, e no fundo no fundo, em nada tem a ver com o belo par de coxas daquela garota que cruzou a praça contornando a multidão, porém, tem a ver com uma outra moça, em outra praça, num tempo ainda remoto, em Vila Pereira, numa transfiguração que só à poesia é reservado tal direito, conhecida por Tia Ceiça, e como nome de estabelecimento escolar, após uma vida dedicada à educação, ficou Conceição Tavares.
Sim, esta sim é a garota e musa inspiradora do poeta dionisíaco, a garota da paz, após, como dissemos, um surto de memória, um apagão do presente, e um terremoto de imagens construídas à base do passado, na qual, o próprio poeta daria um ano pela frente aos anjos do céu, por ter o prazer de vivenciar em carne e osso, corpo e alma, apenas a passagem de mais uma lua se quer ao lado da amada. Pois é, o amor tem destas coisas, e de outras ainda mais que nem sabemos o porquê, quem sabe um dia, se mais um dia tivermos.






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